Saúde um Direito de Todos

A saúde "é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante a políticas saciais e econômica que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário à ações e serviços para sua promoção, proteção e recumperação." conforme esta garantido e definido no Cap. II Dos Direitos Sociais, Art. 6º e Cap. II Da Seguridade Social, Seção II Da Saúde, Art. 196 da Constituição da República Federativa do Brasil.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Depressão

Definição e Classificação

É muito comum chamarmos depressão a um sentimento de tristeza profunda. Dizemos, por exemplo: "hoje estou deprimido" ou que um amigo está "muito deprimido, ultimamente" e assim por diante. Entretanto, não devemos esquecer que a depressão é uma situação patológica, isto é, uma situação de doença. A tristeza em si não caracteriza uma doença e portanto não caracteriza, sozinha, uma depressão. Temos uma depressão quando a tristeza é doentia ou seja quando há um sentimento patológico de tristeza.

O que é então uma tristeza doentia, a ponto que se possa usar para descrevê-la o termo "depressão"? Para um melhor entendimento vamos considerar um fato que normalmente nos deixa tristes como por exemplo a morte de uma pessoa amada. A tristeza aí é normal e dependendo de quanto amamos a pessoa que perdemos, ela pode durar algum tempo. Durante os primeiros dias após a perda pode ser que fiquemos tão tristes que não tenhamos nem mesmo vontade de comer, de sorrir, ou de exercer qualquer outra atividade que normalmente nos dão prazer. Espera-se, porém, que o luto se resolva dentro de um certo período de tempo. Talvez leve algumas semanas até voltarmos a trabalhar satisfatoriamente e a conviver de maneira natural com a família e os amigos. Talvez mesmo depois de muitos meses ainda estaremos tristes, pensando na pessoa perdida. Mas espera-se que com o passar do tempo se retomará o curso natural da existência e que voltaremos a continuar nossa caminhada no mundo do trabalho, das relações e do prazer. Nada disto caracteriza uma depressão. Tudo isto é absolutamente normal.


Pensemos por outro lado numa situação em que o luto não se resolva, isto é, que a pessoa em questão continue por um período excessivamente prolongado a não querer se alimentar, não querer cuidar mais de si, de seu corpo, negar-se a qualquer tipo de prazer, estar sempre chorando, em estado de tristeza profunda, e não consiga mais se relacionar de maneira natural com a família e os amigos; que com o passar do tempo não se vislumbre sinal de melhora. Suponhamos que além disso a pessoa se apresente com um grande complexo de culpa, atribuindo a si a causa da morte do outro, que esta culpa gere uma sensação de auto-desprezo, culminando com idéias de suicídio. Aí temos um conjunto de sintomas que nos faz pensar no diagnóstico de depressão. Suponhamos ainda que uma pessoa apresente estes mesmos problemas mas sem nenhuma causa aparente: ninguém morreu, não houve nenhum evento em sua vida como separação de um conjugue, desemprego, a pessoa simplesmente começou a apresentar-se da forma descrita acima, sem motivo. Aí também se pensa no estado doentio que denominamos "depressão."


O que caracteriza a depressão não é, portanto, a tristeza, a idéia de suicídio, ou qualquer outro sintoma isolado, mas o conjunto de sintomas relacionados desmesuradamente a uma dada situação. Ou ainda, é o aparecimento destes sintomas de forma repetida e/ou sem nenhuma causa aparente.


Para que se diagnostique a depressão, portanto, deve-se levar em consideração se há ou não motivo para o desenvolvimento dos sintomas, e a intensidade dos sintomas, ou seja, a intensidade da tristeza, o afastamento das atividades regulares e prazerosas, a falta de auto-cuidado, as idéias de culpa, auto-desprezo e suicídio, a interferência destes sintomas na capacidade de trabalho, e o tempo pelo qual estes sintomas se prolongam.


O diagnóstico de depressão é, assim, complexo, não por dificuldades em reconhecer os sintomas, mas pela necessidade de equacioná-los devidamente. Sendo assim, sua delimitação e portanto seu diagnóstico é tarefa a que o profissional se dedica levando em conta uma definição que torne este diagnóstico aceito em bases relativamente objetivas. A definição utilizada se relaciona com o Manual de Classificação das Doenças Mentais, em sua 4º edição (o DSM IV). A depressão é aí definida, em termos gerais, como:


"Transtorno caracterizado pela sensação de perda de controle dos humores e afetos e uma experiência subjetiva de grande sofrimento."


Vale a pena então entendermos melhor esta definição, entendendo o que se convenciona chamar de HUMOR e AFETO. Para isto nos reportamos ao Compêndio de Psiquiatria, de Kaplan, Sadock e Grebb:


HUMOR- Estado emocional interno mais constante de uma pessoa. Pode ser elevado ou deprimido.


AFETO - Expressão externa do conteúdo emocional atual.


O afeto, em termos de psiquiatria, não é, portanto, somente aquilo a que normalmente chamamos de afeto, mas as diversas manifestações externa do humor, as maneiras de se relacionar que a gente vê e que mostra um estado interior, aquilo que a pessoa passa para fora de si na relação com os outros. O afeto transmite e denuncia o humor. Concluímos que o humor da pessoa está deprimido quando o afeto que exterioriza é pobre, as manifestações são poucas ou quase nenhuma. Se a pessoa tem um humor elevado, ela passa isto através de manifestações afetivas ricas. A ultra-exuberância, a manifestação hiper-excessiva destas manifestações (o contrário da depressão), chamamos de mania ou estado maníaco.


As depressões às vezes podem se apresentar com um curso que admite episódios intermitentes de mania. A pessoa passa um tempo deprimida, pode melhorar, ficar sem sintomas, e aí apresentar episódio maníaco, depois novo episódio depressivo e daí por diante. Este é um quadro que até recentemente se denominava Psicose Maníaco-Depressiva, hoje chamada Transtorno Bipolar. Outras depressões apresentam-se sem aparição de quadros depressivos. Algumas depressões são muito severas, necessitando de internação em hospital para proteção do paciente e tratamento. Outras são de natureza mais leve, podendo ser tratadas em casa. E algumas são relacionadas com outros problemas, como a menstruação, a menopausa, e outros problemas médicos ou do ciclo da vida. Os tipos de depressão mais comuns, atualmente, podem ser assim classificados, conforme o DSM IV:


- Transtorno depressivo maior

- Transtorno depressivo menor
- Transtorno depressivo breve recorrente
- Transtorno disfórico pré-menstrual
- Transtornos bipolares

Os termos são basicamente auto-descritivos. Nos quatro primeiros considera-se que há apenas sintomas depressivos. Os transtornos bipolares como já vimos se caracterizam pela existência de episódios depressivos e maníacos.


Histórico

A depressão, bem como a mania, são descritos desde a Bíblia e a Ilíada. Na Bíblia há a descrição clássica do rei Saul, personagem eminentemente deprimido. Na Grécia clássica se fazem as primeiras alusões à melancolia. Posteriormente a melancolia é descrita de maneira mais completa por Hipócrates, Galeno e Areteu da Capadócia. Estes autores médicos colocam a melancolia em perspectiva com as teorias vigentes em suas respectivas épocas, principalmente as teorias dos humores (humores aí significando não os afetos, mas os líquidos internos como o sangue, a bile e a fleugma). Em 1882 Karl Kahlbaum usa o termo "ciclotimia," sugerindo a depressão e a mania como estágios da mesma doença. Kraepelin, em 1889, elabora sua descrição da Psicose Maníaco-Depressiva, que contém os critérios usados até hoje para o diagnóstico do Transtorno Bipolar. Este autor descreveu ainda a "melancolia involutiva," forma de depressão que aparece após a menopausa, na mulher, e durante a idade adulta tardia, no homem.


Epidemiologia

Os transtornos depressivos maiores aparecem mais frequentemente em mulheres (até duas vezes mais que nos homens). Os transtornos bipolares não apresentam diferença em sua prevalência por gênero. O início de um transtorno depressivo é geralmente na idade adulta (20 a 50 anos) mas dados mais recentes sugerem que pode estar aumentando o início antes dos 20 anos. Para o Transtorno Bipolar a média de aparecimento do primeiro episódio é aos 30 anos de idade.


Causas das Depressões

Não se tem uma certeza sobre as causas dos Transtornos Depressivos Maiores e Transtornos Bipolares. Artificialmente se considera três grupos de fatores: psicossociais, genéticos e biológicos.


Fatores Psicossociais

Acontecimentos vitais e estresse
são importantes apenas para o desencadeamento do primeiro episódio. Ou seja, um primeiro episódio de depressão pode ser desencadeado por um acontecimento estressante (uma morte, separação, perda de emprego) mas a partir daí outros episódios podem acontecer sem haver necessariamente outros acontecimentos estressantes. É como se o primeiro episódio desencadeasse um mecanismo que deixa a possibilidade automática de outras depressões.

É importante notar que o acontecimento vital mais fortemente associado com o desenvolvimento posterior de depressão é a perda de um dos pais antes dos 11 anos de idade. É IMPORTANTE QUE SE TOME MEDIDAS ESPECIAIS DE APOIO ÁS CRIANÇAS QUE PERDEM SEUS PAIS, OU CUJOS PAIS SE SEPARAM ANTES DOS 11 ANOS. Por isto recomendamos que em todos os casos de separação OS PAIS sejam orientados psicologicamente para lidarem melhor com as situações que se apresentam junto a seus filhos.


Teorias explicativas da depressão
: Segundo Freud a pessoa se deprime porque dirige sua raiva (oriunda da perda objetal) para o interior, para identificar-se com o objeto perdido. Daí sua profunda auto-depreciação associada com culpa e auto-reprovação. Melanie Klein explica a depressão pelo reflexo de um fracasso na infância para estabelecer introjetos de amor - sensação (fantasia) de ter destruído objetos de amor através de sua própria destrutividade e ganância. Os pais internos bons são transformados em perseguidores em razão das fantasias e impulsos destrutivos dos pacientes. Já para Bibring a depressão aparece como resultado da frustração decorrente da incongruência entre as aspirações do paciente e a realidade. Em não alcançando seus ideais os pacientes deprimidos sentem-se desamparados e impotentes. Para Heinz Kohut o indivíduo busca no ambiente respostas necessárias para a manutenção da auto-estima. Se as pessoas significativas não proporcionam respostas o indivíduo sente-se incompleto e desesperado e se deprime.

Outras explicações para a depressão incluem a Teoria do Aprendizado da Impotência, onde o indivíduo aprende, a partir de estímulos do meio ambiente e muitas vezes da própria família, a acreditar que não é capaz de realizar-se ou de superar situações vitais. A Teoria Cognitiva postula que a pessoa deprimida acostumou-se a auto-avaliar-se negativamente, fomentando assim o pessimismo e a desesperança, interpretando distorcidamente experiências de vida. Finalmente, o filósofo Paul Tillich, em sua teoria da ansiedade sugere que as grandes questões existenciais de épocas são foco de problemas cuja não superação podem levar aos transtornos, que tipicamente vêm aumentando, em sua proporcionalidade na época moderna.


Fatores Genéticos

Há uma tendência a se acreditar na potencialidade genética principalmente para os pacientes portadores de Transtorno Bipolar e nos Transtornos Depressivos Maiores. Observa-se, por exemplo, que parentes de primeiro grau de pacientes com transtornos de humor têm maior risco de desenvolvimento de depressões.


Fatores Biológicos


O humor sofre a influência de substâncias químicas que circulam no sistema nervoso central chamadas de neuro-transmissores. Foram constatadas, em pacientes depressivos, alterações no metabolismo de alguns destes neuro-transmissores, principalmente a nor-adrenalina e a serotonina.


A Clínica da Depressão

SINTOMATOLOGIA BÁSICA: COMO SE APRESENTAM OS PACIENTES DEPRIMIDOS


A pessoa com depressão se nota por todo um conjunto de sinais que apontam para seu humor deprimido. Em geral há uma perda de energia e interesse em atividades e sobretudo atividades prazerosas. A pessoa se sente triste, sem esperança, "na fossa," inútil. O sentimento é sempre descrito de maneira diferente de uma tristeza ou sensação de perda. A idéia é de uma dor enorme, emocional, lancinante. Há sentimentos de culpa, dificuldade para concentrar-se, perda do apetite e pensamentos frequentes sobre morte e suicído. Podem ainda existir outras alterações nos níveis de atividade, na capacidade cognitiva, lentidão do pensamento, arrastamento da linguagem, e distúrbios de apetite, libido e outros ritmos biológicos. É comum o comprometimento do funcionamento interpessoal, social e ocupacional.


A questão do risco de suicídio é considerável na depressão. Estima-se que 2/3 dos deprimidos pensam seriamente em se matar e 10 a 15% deles realmente se suicidam. Há que tomar cuidado com este risco, que é real e importante no curso dos episódios depressivos.


Outro sintoma importante na depressão é a sensação de perda de energia, relatada por até 97% de pacientes em alguns estudos. Esta perda de energia leva ao comprometimento na execução de tarefas, no rendimento escolar e profissional e influi na capacidade de assumir novos projetos. Estima-se em 80% a aparição de distúrbios do sono, principalmente o acordar mais cedo que a pessoa normalmente acorda, ou acordar várias vezes durante a noite, quando fica então ruminando sobre seus problemas. Quanto aos distúrbios do apetite, o mais comum é a perda, mas pode haver aumento excessivo do apetite com consequente aumento de peso. Em 90% dos casos há ansiedade.


A depressão pode causar também anormalidades menstruais, diminuição do interesse e desempenho sexual. A ansiedade pode ser severa e levar a crises de pânico, abusos alimentares e queixas somáticas de várias naturezas.


A DEPRESSÃO É SUSPEITADA PORTANTO NA OCORRÊNCIA DE UMA SÉRIE DE PROBLEMAS PARA OS QUAIS MUITAS VEZES NÃO ENCONTRAMOS OUTRA EXPLICAÇÃO.


Relações com outros problemas médicos -
Pacientes com transtorno depressivo maior apresentam diminuição de células T4 e de linfócitos, o que propicia uma baixa de resistência imunológica. Além disso, devido às alterações alimentares, de sono e repouso, há uma tendência a agravar outras condições médicas. Daí pode haver uma correlação entre aparecimento de doenças ou sintomas e a depressão.

Muitas outras doenças podem causar sintomas de depressão inclusive o alcoolismo, o estresse pós-traumático, a anorexia e a bulimia nervosas. Algumas doenças graves, inclusive alguns cânceres, se iniciam com sintomas de depressão.


Depressão em Crianças e Adolescentes

Crianças e adolescentes podem apresentar formas mascaradas de depressão. Fobia à escola e apego excessivo aos pais podem ser sintomas precoces. Outros sintomas podem tomar a forma de baixo rendimento escolar, abuso de álcool e outras substâncias, comportamento anti-social, promiscuidade sexual, faltas injustificadas à escola e fugas de casa.


Depressão em Idosos

A depressão é comum em idosos, acontecendo em 25 a 50% desta população. Pode estar relacionada a baixa situação econômica, perda do cônjugue, doença física e isolamento social.


O Estado Mental do Paciente Deprimido

O paciente deprimido tipicamente apresenta retardo psico-motor (embora alguns, como exceção, apresentem-se agitados); redução de velocidade e intesidade da fala; têm uma visão negativa do mundo e de si mesmo; ruminações sobre perda, culpa, suicídio e morte. Há em geral uma falta de energia e de interesse, e pessimismo quanto ao curso da doença e da vida.


O que se espera do Curso da Doença. Qual é o Prognóstico?

A depressão é geralmente de curso longo com tendência a recaídas. O primeiro episódio é geralmente precedido de fatores estressantes vitais, mas não os episódios subsequentes.


MAIS DE 50% DOS PACIENTES DEPRESSIVOS APRESENTAM SINTOMAS ANTES DE APARECER UM PRIMEIRO EPISÓDIO DE TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR. NA MAIORIA DAS VEZES ESTES SINTOMAS PASSAM DESPERCEBIDOS.


Um episódio de transtorno depressivo maior não tratado pode durar de seis meses a um ano. Com tratamento, o episódio dura em média três meses. Com o avançar da doença a tendência é haver mais episódios e com mais frequência. Tipicamente a situação se estabiliza com uma frequência de cinco a seis episódios a cada 20 anos.


Há, entretanto, situações que apontam para um curso benigno dos transtornos depressivos. São estes:


- História de amizades sólidas durante a adolescência

- Funcionamento familiar estável
- Funcionamento social sólido nos cinco anos anteriores ao primeiro episódio
- Presença de uma rede social sólida, para pessoas de idade avançada
- Ausência de outras doenças psiquiátricas

São indicadores de mau prognóstico o abuso de álcool e outras substâncias e a presença de sintomas de transtornos específicos de ansiedade.


Vale notar que a depressão pode, portanto, se não ser prevenida de forma total, pelo menos amenizada, através do interesse de pessoas da família e amigos, que buscam apoiar, orientar e se dedicar à pessoa que sofre do transtorno. Através da detecção precoce de sintomas. E sobretudo através da busca de lares, esquemas sociais e de amizade que proporcionem vínculos fortes e estáveis. Num mundo que favorece o aumento das depressões há a esperança sempre presente de uma humanidade que resiste às tendências negativas e se dedica a criar um mundo mais acolhedor e portanto mais saudável, protegendo aos mais expostos aos transtornos depressivos.

Fonte: Blibliomed
Referências Bibliográficas

- Allilaire, J.-F. Um modelo biológico em psicopatologia: a lentificação depressiva como organização patológica da atividade. In: Comunicação e representação. Trad. Cláudia Berliner. S. Paulo: Escuta, 1989.
- Fromm, E. Psicanálise da sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Zahar, 1959.
- Jouvent, R. Clínica da tristeza. In: P. Fédida. Comunicação e representação. Trad. Cláudia Berliner. S. Paulo: Escuta, 1989.
- Kaplan, H.I.; Sadock, B.J. & Grebb, J.A. Transtornos do humor. In: Compêndio de psiquiatria. 7a. ed. Trad. Dayse Batista. Pp. 493-544. Porto Alegre: Artes Médicas.

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