Saúde um Direito de Todos

A saúde "é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante a políticas saciais e econômica que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário à ações e serviços para sua promoção, proteção e recumperação." conforme esta garantido e definido no Cap. II Dos Direitos Sociais, Art. 6º e Cap. II Da Seguridade Social, Seção II Da Saúde, Art. 196 da Constituição da República Federativa do Brasil.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Saúde Pública: Leptospirose


A Leptospirose é uma zoonose causadora de uma vasculite infecciosa, aguda e generalizada e que tem por agente etiológico, espiroquetas do gênero Leptospira, sendo a infecção humana causada principalmente pela espécie interrogans. Essas bactérias anaeróbias obrigatórias, flexíveis e móveis podem habitar, por vários meses, os túbulos contornados dos rins de animais infectados assintomáticos. Após sua excreção pela urina, a Leptospira pode sobreviver por até seis meses no meio ambiente. A infecção do homem é acidental e representa o final da cadeia de transmissão.

A Leptospirose é uma doença endêmica em todo o mundo e o período de maior incidência ocorre na estação chuvosa, nas regiões tropicais e no final do verão e inicio do outono nas regiões temperadas. Epidemias são mais freqüentes em períodos de muita chuva.
A Leptospirose se mantém no ambiente, graças à infecção renal crônica que acomete os animais. O reservatório mais importante é o de roedores, e outros mamíferos pequenos, porem, animais de estimação também podem se tornar reservatórios. Geralmente a infecção dos animais de estimação (cães) acontece durante a infância destes, mas uma vez infectados eles se tornam portadores e podem excretar as leptospiras intermitentemente ou continuamente durante toda sua vida.
A Infecção ocorre através de um contato direto ou indireto com urina ou tecidos de animais infectados. O contato direto é importante na transmissão da doença para veterinários e trabalhadores de fazendas, matadouros, etc. O contato indireto é mais comum e resulta da contaminação do solo ou da água pela urina de animais infectados.
O homem se infecta por exposição aleatória (em atividades recreativas ou ocupacionais) ao patógeno, que penetra através das mucosas nasal, oral ou conjuntival, abrasões ou ferimentos na pele. Ocorrem epidemias em paises subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, principalmente nas épocas de chuvas e inundações. No Brasil, a leptospirose é doença que acomete principalmente adultos jovens do sexo masculino, ocorrendo principalmente nas estações quentes e chuvosas como verão e outono.
Após penetrar no corpo, através da pele escoriada ou mucosa, a espiroqueta se dissemina amplamente pela corrente sanguínea. Provoca então uma vasculite, sendo a lesão das células endoteliais dos capilares, a principal causa das alterações da doença, como disfunções renais e hepáticas, miocardite e hemorragia pulmonar. Ocorre também desvio do líquido do meio intravascular para o extravascular, o que leva a piora significativa do quadro renal, podendo resultar em choque. Os casos fatais decorrem de hemorragia disseminada das superfícies mucosas e da pele.

As manifestações clínicas da leptospirose iniciam-se, habitualmente, em 7 a 12 dias após a exposição ao patógeno, sendo que a maioria das infecções é assintomática ou transcorre com manifestações subclínicas. A doença pode ser manifestar de duas formas distintas: anictérica ou ictérica.
A maioria dos pacientes sintomáticos, desenvolve uma forma anictérica autolimitada da doença, que se divide em duas fases.
A primeira fase é chamada "fase septicêmica" e se caracteriza pela presença de espiroquetas no sangue, líquor e outros tecidos. Ocorre febre alta (38 a 40º c) de início abrupto associado à cefaléia de leve a moderada intensidade, calafrios, mialgia principalmente nas panturrilhas (um dos principais sintomas da doença), dor torácica, rigidez de nuca, sufusão conjuntival e prostração. Nos casos mais graves pode haver hepatoesplenomegalia, pancreatite, comprometimento renal e manifestações respiratórias (hemoptise, tosse seca). Esse quadro dura cerca de sete a dez dias, seguindo-se um período de melhora de dois dias, após o qual se inicia a segunda fase da doença.
Na segunda fase (ou "fase imune") as Leptospiras desaparecem do sangue e são encontrados anticorpos específicos circulantes no paciente. Essa fase da doença pode ou não ocorrer, e, quando ocorre, manifesta-se como um quadro de meningite asséptica caracterizada por ausência de Leptospiras e presença de anticorpos no líquido cefalorraquidiano. O quadro clínico e os exames do líquor são semelhantes aos da meningite viral clássica, sendo raramente fulminante. Esse quadro pode durar de quatro a trinta dias.
A forma ictérica da leptospirose (também chamada de Doença de Weil) é considerada a mais grave delas. Nessa forma, além dos sinais e sintomas presentes na leptospirose anictérica, ocorre vasculite intensa e disseminada, levando ao comprometimento de múltiplos órgãos. Podem ocorrer alterações hepáticas com aumento discreto das aminotransferases (sem ultrapassar 200U/l) e aumento de bilirrubina direta. As alterações renais incluem aumento da uréia e creatinina; leucocitúria, hematúria, cilindrúria e proteinúria. Também podem ocorrer alterações pulmonares, cardíacas, hemodinâmicas e hemorrágicas, sendo que a letalidade dessa forma da doença gira em torno de 5 a 15%. Deve-se lembrar que todas as alterações pulmonares, hepáticas e renais causadas pela Leptospira são reversíveis.
Os sintomas mais freqüentes à admissão são mostrados no quadro abaixo. Os dados são de 1999 e a amostragem foi de 193 pacientes.


Brasil n = 193 (dados de 1999)
Icterícia
93
Anorexia
-
Cefaléia
75
Sufusão conjuntival
28.5
Vômitos
Mialgia
94
Artralgia
Dor abdominal
Náusea
Desidratação
Tosse
Hemoptise
20
Hepatomegalia
Linfadenopatia
Diarréia
Rash cutâneo

O diagnóstico de leptospirose se baseia na história, no quadro clínico e nos resultados dos exames laboratoriais solicitados. O hemograma pode mostrar anemia, leucocitose com desvio à esquerda e trombocitopenia. Aumento na CPK (creatinina fosfoquinase) associada a quadro clínico sugestivo pode ser considerado forte evidência de leptospirose. As alterações hepáticas e renais (anteriormente citadas) podem ser descobertas dosando-se enzimas hepáticas, uréia e creatinina no sangue. Um exame direto da urina também pode ser útil.
O diagnóstico de certeza se faz por exames específicos. Como métodos diretos de pesquisa temos a Microscopia em campo escuro ou a Cultura dos microrganismos a partir de amostras de fluidos corporais (sangue, urina ou líquor). Entre os métodos sorológicos gênero-específicos estão a Reação de aglutinação macroscópica, o Teste de fixação do complemento e, o mais importante deles, o ELISA. Este pode detectar anticorpos para Leptospira cinco dias depois do início dos sintomas, podendo firmar o diagnóstico com amostra do soro, sendo bastante utilizado hoje. No entanto, o teste mais recomendado atualmente e considerado o mais confiável para o diagnóstico de leptospirose é a Reação de Aglutinação Macroscópica. É utilizado um pool de espiroquetas e por isso ele é chamado de teste sorogrupo-específico. São considerados positivos os soros que apresentarem títulos iguais ou maiores que 1/100. O diagnóstico é firmado com duas amostras de soro colhidas com intervalo de 15 dias, verificando-se um aumento de 4 vezes no título da primeira para a segunda amostra.

A conduta no paciente com leptospirose baseia-se fundamentalmente em tratar as diversas alterações orgânicas causadas pela doença. O tratamento inicia-se com a correção volêmica rigorosa, utilizando soro fisiológico ou Ringer-lactato. Deve ser observada a presença de complicação pulmonar, situação na qual a infusão de líquidos deve ser feita com cautela. Correções eletrolíticas também devem ser feitas quando necessário. Se com essas medidas o quadro renal não se estabilizar, deve-se indicar procedimento dialítico imediatamente (mais comumente, diálise peritoneal) na tentativa de evitar complicações pulmonares e hemorrágicas. As alterações pulmonares devem ser tratadas com a utilização de oxigênio inalatório e/ou ventilação mecânica (quando necessário), além de correção da hipovolemia, como dito acima.
O tratamento específico da doença com antimicrobianos ainda parece controverso na literatura. Vários estudos mostram que o uso de penicilina G ou tetraciclina iniciadas, no máximo, durante os primeiros quatro dias da doença, podem diminuir a duração da febre e a incidência e gravidade das alterações renais, hepáticas, meníngeas e hemorrágicas.
No entanto, embora existam controvérsias, sabe se que o tratamento com antibióticos reduz o tempo de eliminação das leptospiras pela urina do paciente. Outros estudos, no entanto, trazem evidências que o uso de antibióticos podem trazer benefícios, mesmo após esse período inicial da doença.
Sendo assim, devido à falta de consenso no que diz respeito ao tratamento da leptospirose, recomenda-se o uso de penicilina G ou ampicilina EV, em quadros moderados a graves, e doxiciclina ou amoxicilina em pacientes que tolerem terapia oral; até que a literatura traga informações conclusivas sobre o assunto. Um estudo recente mostrou que uma dose diária de ceftriaxona é tão efetiva quanto a penicilina, no tratamento da leptospirose.
A profilaxia contra a leptospirose pode ser feita, através de medidas comportamentais ou farmacológicas. Pessoas com exposição ocupacional (garis, veterinários, etc) devem usar roupas e proteção especial para evitar o contato da pele e mucosas com a urina contaminada. A doxaciclina VO, uma vez por semana tem eficácia em torno de 95% e também pode ser utilizada.

A leptospirose é uma zoonose, causada por uma espiroqueta do gênero Leptospira. O homem é hospedeiro acidental desse patógeno e desenvolve uma vasculite aguda, que compromete diversos órgãos, principalmente fígado, rins e pulmões. Apresenta duas formas clínicas, sendo a forma anictérica a mais comum e menos grave. O diagnóstico é feito através de uma anamnese detalhada, apoiada em exames laboratoriais inespecíficos e específicos, para confirmação da suspeita. A terapêutica baseia-se no suporte do paciente e na administração, ainda controversa, de antibióticos. O prognóstico geralmente é bom, mas depende invariavelmente da susceptibilidade do hospedeiro e da forma clínica que este veio a desenvolver.

Fonte: blibliomed.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leia as postagem, mande pra nos sua opinião, sua critica ou sua sugestão.